domingo, 2 de abril de 2017

PALAVRAS INOPORTUNAS

por Inajá Martins de Almeida



Sim... Quantas vezes palavras inoportunas, vindas em momento errado, sangram nosso coração vulnerável. Percebemos então que as pessoas não querem mais sentir o outro. Distanciam-se até dos que tão próximos lhe foram - mãe, pai, avós, tios, primos - e passamos a nos perguntar: - por quê?

E recorremos às passagens bíblicas e é ela nos diz que ao homem caberá deixar mãe e pai e unir-se a uma mulher e constituir família. 

Não é o que vemos. 

Sim... Filhos crescem e logo querem a independência física dos pais, mas um pesinho sempre permanece na casa paterna - a dependência financeira. 

Morar sozinhos, quantos almejam, quiça, terem um esposo, uma esposa, que lhes possam aliviar noites de solidão. Daí o que poderia ser encontro fortuito, torna-se desalento. 

Famílias desconstruídas, destruídas por todos os cantos anseiam pela construção de uma família, quantas vezes em vão.

O amor entre os homens a se esfriar, também escrito. O que mais conseguimos enxergar é a ciência a se multiplicar, mas o homem a sofrer, porque em meio a tanto conhecimento o tal lhe falta. E então?

Deus não muda. Suas mãos estendidas criaram todas as coisas. E quantos a se distanciar do criador em busca de ilusões. 

- Cuidado para que ninguém vos engane. Alerta!

Estamos cegos, de umas cegueira que não nos permite enxergar que estamos cegos...

Andamos ansiosos a correr de lá para cá numa época em que as facilidades são criadas para trazer facilidade. Mal temos tempo de olhar os lírios do campo, os pássaros que gorjeiam... Insensatos... Pobres miseráveis e nus que somos... 

Máquinas podem substituir trabalhos braçais. Computadores podem agilizar trabalho mental. Meios de locomoção podem nos trasladar rapidamente a lugares desejados e requeridos, contudo abreviamos o tempo ao correr para a morte em trágicos acidentes. Em contrapartida a ciência prolonga a vida para outros tantos.

- Marta... Marta... por que andais ansiosa? 

E contudo em meio a tanto questionar, podemos ir ao encontro daquele que nos segura pela mão, que nos exorta:

- Vinde a mim os que estão cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei. 

Jesus. Nome que está acima de qualquer nome. Que nos mostra o Pai. 

Jesus. Que tira o morto de sua tumba, desata-lhe as amarras e o faz andar. Que dá vista ao cego. Resgata o cativo do cativeiro e o torna missionário dentro de sua própria casa. 

Jesus. Que ao paralítico lhe devolve o ânimo para sair de sua prostração, ainda que consigo leve a maca que lhe fizera deitar-se em um tanque de Betesda por longos e intermináveis anos, sem que mão alguma lhe fizera descer às águas do entendimento. 

Jesus. Que trabalha incansável independente de ser sábado e sagrado aos ditames de uma tábua que estava por ser quebrada. Um véu que estava por ser rasgado. Uma aliança trocada.

Jesus. Que multiplica vinho, pães e peixes. Resgata a dignidade das mulheres. Deixa-as espargir óleo a seus pés, escutarem suas palavras: 

Jesus que conclama às Marias ficarem com as melhores partes. 

Jesus. Que concede que migalhas de pão, caídas da mesa possam alimentar mulher faminta e os seus. 

Jesus. Que cura à distância, ao toque suave de sua voz:

- Vá. Tua filha está curada. 

Jesus. Que veio para os seus e estes não o puderam entender. 

Jesus. Tudo que tudo isso fez e muito mais faria, para ser levado à cruz, escarnecido e humilhado - rei dos judeus. 

Jesus. Ainda que cravejado de pregos e espinhos, sangue a derramar suplica pela misericórdia do Pai em sussurros abafados:

_  Pai! Perdoa-lhes. Não lhes impute mal algum, pois eles não sabem o que fazem. 

Sim! Realmente não sabemos o que estamos a fazer.

Creditamos uma imagem de barro, a qual podemos pintar da forma a mais esmerada e possível tal bonecos de madeira os quais podemos falar:

- Fala e anda... Mas que não andam, não falam, tampouco vertem lágrimas. 

O que pensar. A nós fora proibido erigir imagens, quanto mais nos prostrarmos ante as tais. O que fazemos então? Tal Adão e Eva que da árvore se apossaram, desobedecendo ordens, estamos nós a cometer o mesmo engano. Desobedecemos e ainda usamos de subterfúgios: - é apenas uma representação. 

Adentramos templos. Guardamos sábados, domingos, dias santificados. O tempo exíguo nos priva das visitas breves aos pais.

Transformamos Maria - mãe de Jesus - em nossa própria veneração e a seus pés, frios de mármore nos deixamos ficar por tempo infindo. Esquecemos que nossa mãe de carne e osso anseia uma ligação telefônica, ainda que fragmentada. Um enlaçar de corpos, um sorriso terno. 

Aquela mãe que deu seu corpo, embalou o filho, riu seus risos, chorou suas lágrimas, acompanhou seus passos ao entregar-lhe à esposa amada.

Maria. Todas somos Marias. Nas ruas, nos asilos, nos hospitais, sobre a lápide fria. Marias de carne, osso e sentimento, que desejam serem vistas, mas é a imagem virtual que se torna real. 

Maria que ao anjo não questionou - apenas obedeceu. 

Maria que no templo encontrou o filho adolescente a conversar com seus maiores: onde mais poderia encontrar aquele que estava a cuidar das coisas do Pai. 

Maria que também fora renegada pelo próprio filho ao não lhe abrir a porta quando reunido aos seus. 

Maria que de longe, agora, acompanha o calvário do filho. Aos pés da cruz se prostra. Na tumba o cobre com panos brancos e o unge com óleos e nardos. Tantas vezes o fizera no leito, corpo quentinho ao seu abraço terno, a embalar-lhe o sono.

Interrogação que ao tempo oportuno trará resposta. Agora somente palavras inoportunas conclamam estas linhas. 



        

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