sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O QUE É SER UM VERDADEIRO AMIGO?

Inajá Martins de Almeida

Num tempo em que percebemos que o amor entre os homens está a se esfriar; em que os filhos se voltam contra os pais; pais contra filhos (Mt 24:12), será possível encontrar amigos verdadeiros, que não se intimidem ante os sacrifícios, ante as adversidades impostas pelas barreiras das circunstâncias momentâneas e se lancem ao bem-estar do seu próximo?


Num tempo em que os noticiários apontam para atrocidades de maridos ceifando vidas de esposas; pais valendo-se de abusos e até óbitos de suas filhas e filhos, professores sendo ultrajados, valores morais e sociais invertidos – o mal em bem, o bem em mal - poderíamos pensar que é possível encontrar amigos verdadeiros, tal qual nos é apontado no Livro Bíblico, quando Jesus, estando em Cafarnaum, é surpreendido por quatro homens que levam o amigo paralítico à sua presença?


O filósofo grego Aristóteles (Atenas 384 – 322 aC) diz que “a amizade é haver uma alma em dois corpos”.


Assim, posso perceber que os quatro amigos do paralítico compactuavam aquela dor. Eram quatro corpos habitando uma alma somente. Conheciam-se na intimidade. Irmanavam-se nas alegrias e nas dores. Eram aqueles amigos que amavam o tempo todo e em irmãos se tornaram. (Pr 17:17)


Os doze versículos do capítulo dois do evangelho do apóstolo Marcos, não se atém a dar nomes: não sabemos quem são os amigos, quem é o paralítico, apenas que demonstravam conhecer Jesus e seus feitos. Creio que sabedores de curas, não se intimidaram ante as perspectivas das dificuldades que encontrariam no percurso a carregar um homem inerte em sua maca.


Detenho-me a imaginar a cena: um homem prostrado, seu corpo largado, sua massa óssea, a carne, atribuíam-lhe um peso a mais do que o real. O cansaço da distância – não se prediz qual. O tempo imprimido à aventura. O desejo ansioso, audacioso e esperançoso pela cura do amigo.


Julgo ser este jardim habitado do qual falara o escritor alemão Goethe quando temos apreço por alguém:


“Conhecer alguém aqui e ali que pensa e sente como nós, e que embora distante, está perto em espírito, eis o que faz da Terra um jardim habitado”.


Ali, junto àquela multidão, bem próximos do Mestre, apresentavam-se cinco personagens, mas um interesse comum – a cura daquele mal que por toda a existência acometera aquele homem: amigo incondicional.


Impossível era, contudo, a passagem. Escribas, fariseus, mestres da lei, vindos de toda parte da Galiléia e Jerusalém, ocupavam os espaços a observar os ensinamentos do Mestre.


O que fazer diante dos empecilhos? Retroceder? Aceitar a impossibilidade? Criar situações tais que permitam alcançar o objetivo estabelecido?


O texto demonstra claramente que uma estratégia fora aplicada e o paralítico, surpreendentemente é colocado frente a frente a Jesus, baixado através da abertura que se fizera no telhado.


Seria possível precisar a altura, a força imprimida pela corda, o cuidado para que o corpo seguramente se erguesse, alcançasse o topo e depois fosse baixado até a presença do Mestre, na frente de toda aquela multidão que se esbarrava e ocupava todos os espaços? O tempo necessário para esse feito? Apenas abalizado estudo físico e matemático concluiria a questão, a nós intimida-nos sobremaneira a manifestação de amizade e fé.


Um paralítico, uma maca, quatro amigos. Uma casa danificada, a qual deveria ser restaurada.


Esses homens se intimidaram? Não. Dispostos estavam às últimas consequências. Ao preço, recursos eram despendidos; esforços sobrehumanos eram aplicados. Alheios mantinham-se aos aparentes obstáculos: olhavam apenas para a maca e para o amigo - olhos vibrantes, coração a palpitar. Agora, tão próximos estavam do milagre. 


Vendo a tremenda fé manifestada pelos quatro amigos, imediatamente Jesus se manifesta ao paralítico, “perdoando-lhe os pecados”, sendo prontamente repreendido pelos que se colocavam bem à sua frente, como conhecedores da lei, os quais, pelos seus pensamentos, eram traídos:


“Por que pensais assim em vossos corações”?


Não teria, pois, “o Filho do Homem autoridade para perdoar pecados”?


Por nós Jesus pagou alto preço; na cruz do calvário derramou Seu sangue para que viéssemos buscar a santificação, a fim de obtermos a salvação eterna. Já não nos chama servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas chama-nos amigos, porque tudo quanto ouviu do Pai nos deu a conhecer. (Jo 15:15)


E, diante de olhos incrédulos, mais uma vez,  dirige-se ao paralítico e lhe ordena que se levante, tome seu leito e vá para sua casa, sendo prontamente atendido.


Paralítico e amigos não questionam, antes, entendem aquelas palavras de autoridade; delas se apoderam e daquele local se evadem, deixando a todos maravilhados.


Jesus, nosso verdadeiro amigo pagou esse preço por nós!


E nós, estamos dispostos a corresponder?


3 comentários:

matheus disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Aline Negosseki Teixeira disse...

Cristo Jesus é fiel amigo... Ele só... Ele só...

Que lindo texto Inajá.
Eu já tinha refletido nessa passagem, mas assim imaginei o antes da situação e não só a perseverança ferrenha do intento
=]

Que linda a citaçõe de Goethe. Constantemente sinto que minha ida é um jardim assim.
;*
Aline

Inajá Martins de Almeida disse...

Aline querida amiga

Como é bom encontrá-la neste jardim. Posso sentir o teu perfume a exalar entre as flores.

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